Num reino longínquo, uma rainha desesperava-se por não ter filhos. – Temos de ter um! Temos de ter um!, gemia o rei. Para quem ficará este soberbo reino que me deixou o meu pai, que o recebeu do seu pai, e assim sucessivamente, desde a criação do primeiro pai sobre a Terra? A quem entregarei a minha coroa quando os meus ossos se tornarem velhos e quebradiços, quando estiver cheio de cabelos brancos e tolhido de reumatismo? – Que quadro tão terrível da velhice! Mas não deixa de ter razão: precisamos ter uma criança. A rainha consultou todos os manuais e os médicos mais poderosos e mais sábios. Por fim, graças aos tratamentos, finalmente engravidou. – Cuidado, este principezinho será seu tesouro, mas não lhe dêem mimo demais. Não tenham pressa em fazer dele um pequeno rei, preveniu o médico, assim que o bebê nasceu. Mas mal ele virou as costas, a rainha pegou logo o pequeno príncipe e começou a enchê-lo de mimos. – Tu és o meu reizinho, o meu único rei, e os teus desejos são ordens. Os pais meteram o menino numa redoma infinitamente preciosa e, todas as manhãs, uma criada diplomada levava-lhe mamadeiras de cristal com leite da melhor qualidade e mel de abelhas raras. Dormia num colchão de pétalas de rosa colhidas na Abissínia exatamente às 5 horas da manhã -– quando estavam mais frescas -– e em lençóis bordados a ouro. Para servir o menino, uma dúzia de criadas corriam de um lado para o outro durante o dia e, à noite, dormiam a seus pés. Estava protegido de tudo: da mais leve brisa, do menor sopro… Para o aquecer, os pais mandaram construir um sol artificial, que não queimava a pele, mas fornecia vitamina D. Foi assim que o garotinho cresceu, tranqüilamente, em silêncio. Seus desejos eram ordens, sempre atendidas prontamente. No dia em que completou 7 anos, pareceu conveniente aos pais tirar a criança adorada da sua redoma de vidro. – Meu pequerruchinho, agora já és grande!, disse a mãe, aproximando-se para lhe fazer um carinho. – Não sou pequerruchinho coisa nenhuma, disse o príncipe com desdém. E se quer me beijar, autorizo que me beije os pés. É o quanto basta. Depois, dirigiu-se ao pai: – Ei, velhote, passa para cá a sua coroa! O rei entregou-lhe a coroa sem dizer uma palavra, porque nunca havia dito “não” ao principezinho, nem quando ele tinha 1 dia, nem quando ele tinha 3 meses. Como proibi-lo então de alguma coisa aos 7 anos? E foi assim que o principezinho se transformou em rei. Um rei tirano de 7 anos e alguns dias. Mandou cortar todas as árvores, porque um dia lhe caiu uma ameixa na cabeça; ordenou que todos os pássaros fossem estrangulados, um a um, porque cantavam de manhã muito cedo e isso atrapalhava seu sono; determinou que sua mãe fosse presa no 749o andar da mais alta das suas torres, porque ela tinha se atrevido a mandá-lo fazer os seus deveres reais. É o que por vezes acontece quando se é criado numa redoma. O pior é que, apesar dos seus caprichos, ele tinha sempre um rosto infeliz e gritava: – Sinto-me sozinho! Estou triste! Ninguém gosta de mim!
Trecho de O principezinho tirano, extraído do blog https://geracoesdialogo.wordpress.com
|